Depois de se relacionarem com várias pessoas, por intermédio de um aplicativo móvel, Gabi (Laia Costa) e Martin (Nicholas Hoult) acabam por cruzar caminhos, embarcando numa relação aparentemente madura mas que se agita com o passar do tempo.
Durante a primeira meia hora, aproximadamente, o filme entusiasma-nos: apresenta-nos as personagens, a forma como estas vivem a sua vida, os seus trabalhos e os seus encontros através da app…
Mas, aos poucos, o filme começa a perder o fôlego, instala-se o drama, e nem mesmo a agitação da relação dos protagonistas, através da concretização de várias fantasias sexuais envolvendo terceiros, permite ao espetador recuperar o entusiasmo seguindo este aborrecido até ao final.
As relações abertas ou, melhor dizendo, não monogâmicas (até certo ponto) estão e estarão cada vez mais presentes nas nossas vidas e, neste sentido, é importante que sejam trabalhadas, não só pelo cinema como por outras artes, para se facilitar a sua inclusão social.
Infelizmente o filme não as encara, às relações abertas, com o objetivo acima citado. Isto porque Gabi afirma, já perto da conclusão do filme, que está farta de ter uma relação “assim” e que está na altura de viver com Martin uma relação a sério.
É principalmente neste ponto que o filme desilude, ao lançar a ideia de que uma relação que não seja a dois não é de todo uma relação “a sério”.
Apesar da narrativa pobre, a interpretação dos atores é convincente, ao mesmo tempo que é comovente.
Gabi que se apresenta como uma jovem sem pudores é, também, ingénua, deixando-se levar por Larry (Danny Huston), um homem bastante mais velho que acaba por tratá-la como se esta fosse uma “vendida”, que apenas está ao lado dele porque este lhe oferece regalias em troca.
Já Martin, que no início tem dificuldades em falar sobre o seu passado, surpreende positivamente o espetador devido à densidade que adquire ao longo da trama e que resulta dos problemas que enfrentou, como a morte da irmã ou o aborto da ex-mulher.
A temática relativa às tecnologias, e nomeadamente a das relações digitais, é destacada no filme por diversas vezes: através dos primeiros encontros, do romance de Gabi e Martin, das fantasias que concretizam.
Esta é, certamente, uma das consequências da vida fugaz da modernidade, que faz o espetador refletir sobre si e sobre a sua relação, quase que (se não mesmo), obcecada por elas.
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Nota:
Passados 50 minutos de filme sucedem-se uma série de planos onde os protagonistas estão deitados na cama a discutir sobre a possibilidade da sua relação se tornar aberta. Gabi encontra-se do lado direito da cama (1ª imagem) e Martin do lado esquerdo (2ª imagem), sendo que o primeiro plano se vai alternando entre um e outro à medida que cada um fala.
Entretanto vemos um plano geral do quarto e os protagonistas assumem posições distintas das iniciais na cama (3ª imagem).
Findo este plano voltam às primeiras posições.
Propositada ou não, a verdade é que esta série destabiliza a fluidez do filme parecendo ser uma falha significativa, provavelmente, da pós-produção.
Newness (2017)
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